Se tem uma coisa complexa de se entender é como se estabelece a numeração dos calçados. Para começar, ninguém calça um número absoluto, uma vez que, dentro de uma escala, estamos sempre entre um e outro (35/36 – 37/38 e por aí vai). Além disso, essa classificação varia conforme a forma, que, em termos leigos, é o “molde” do sapato.
Para tentar esclarecer as principais dúvidas sobre este intrigante universo, fomos em busca de informações técnicas – e, claro, tudo se responde pela matemática.
Escala francesa
Segundo informações do Centro Tecnológico do Calçado do SENAI-RS, não existe um padrão universal que defina as medidas exatas para cada numeração. Somente na Europa, para se ter uma ideia, há diversas escalas, dependendo da regra de cada país.
Foi lá, aliás, que se ouviu falar pela primeira vez em tamanhos de calce, que eram medidos com base em grãos de cevada. Funcionava assim: organizavam-se os grãos em linha, ao longo do comprimento do calçado, e este número era o que valeria dali por diante. Ou seja, 35 unidades de cevada equivaleriam ao número 35. Estamos falando em meados do século XVI.
Já a partir da evolução das técnicas de fabricação, por volta de 1800, adotou-se a unidade de medidas em pontos – referência utilizada até hoje. No Brasil, a escala adotada é a francesa, em que cada ponto mede 2/3 de centímetro. Assim, se parte do zero (calcanhar) e a cada 0,66 centímetro conta-se um ponto (finalizando na ponta do dedão).
A única diferença observada no calce brasileiro é a largura dos pés, que é maior. Por isso, em vez de a medida partir do zero no calcanhar, inicia em -2. Este é o motivo pelo qual um sapato brasileiro 38 tem tamanho 40 na Europa, por exemplo.
Desde os primórdios
Inventado como uma forma de proteger os pés, o calçado faz parte da vestimenta do homem há mais de três mil anos, conforme dados do Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas (SBRT). Contudo, antes ainda de existir um mercado estabelecido para o setor, a peça assumiu, durante muito tempo, posto de símbolo de status. Apenas quem tinha alguma importância na sociedade poderia exibir um par. E todos eram feitos sob medida (imagine algo em torno do século XIII – se estendendo por bastante tempo).
Padrões do século XX
Foi recentemente, já no século XX, que os países desenvolvidos fixaram suas próprias escalas de medida de calce. Além do ponto francês, popularizaram-se diversos:
•Sistema Ponto Inglês: criado na Inglaterra, com medidas em proporções de uma polegada, que equivale a 25,4 milímetros. Assim, 1 ponto inglês equivale ao valor da fração de 1/3 de polegada – ou 8,46 milímetros.
Importante: também está estabelecido o meio ponto, que equivale a 4,23 milímetros, estendendo amplamente a grade e resolvendo o problema de quem tem medidas diferenciadas na anatomia dos pés. Ainda conforme o SBRT, o formato do bico faz diferença. Os modelos de bico fino têm comprimento maior, enquanto os redondos e com frentes abertas, são mais curtos.
•Sistema Ponto Americano: nesta escala, a numeração diz respeito à medida mínima da forma. Neste caso, seu comprimento é o resultado da seguinte equação: comprimento equivalente ao número + medida do suplemento, conforme o formato do bico. E tudo isso precisa ser calculado tendo como base se o produto é feminino, masculino ou infantil (pois há diferenças no cálculo, conforme a linha), considerando que há também o meio ponto.
•Em países, como Itália e México, há outros sistemas métricos, que levam diferentes fatores em consideração. Por isso, quando se faz compras no Exterior, especialmente em lojas online, é importante verificar qual escala se utiliza, para não errar na hora do pedido.
Meio ponto
Embora siga a escala francesa com adaptações, o mercado brasileiro enfrenta um grande desafio para atender à imensa diversidade de biotipos do consumidor. Como não há alternativas diferenciadas na numeração de sapatos nacionais, uma boa dica é adotar o uso de produtos específicos para este ajuste, como palmilhas de meio número. Elas ajustam o calçado ao pé, proporcionando conforto e suavidade ao andar.
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